terça-feira, 23 de julho de 2013

Proteína: afinal, quanto ingerir?

Uma das primeiras lições sobre nutrição que aprendemos é que é importante ingerir proteínas para garantir um corpo forte e saudável. A impressão que nossos pais e a mídia nos passam é de que quanto mais proteína em nossa alimentação, melhor. Mas afinal, quanto realmente precisamos de proteína para manter uma vida ativa e saudável? E se quisermos malhar e ganhar massa muscular, quanto deveríamos acrescentar à nossa dieta?
Em primeiro lugar, vamos garantir que alguns conceitos básicos estão claros:

O que são proteínas:

Proteínas são macro-moléculas orgânicas compostas por vários aminoácidos. Existem 20 aminoácidos principais, dos quais 9 são ditos essenciais - aminoácidos que o corpo humano não é capaz de produzir, sendo necessária a sua ingestão pelos alimentos para evitar a sua deficiência no organismo.
A partir desses 20 aminoácidos, o corpo humano produz cerca de 100.000 proteínas, sendo que cada uma dessas diferentes moléculas de proteína tem algumas centenas de aminoácidos de comprimento.
As proteínas desempenham muitas funções em nosso corpo. A função com que estamos mais familiarizados é a função estrutural ou plástica: elas constituem nossos músculos, cartilagens, cabelos, unhas, etc.
Além dessa função, elas também atuam em nosso sistema hormonal, são usadas para obtenção de energia, constituem nossas enzimas e são responsáveis pelo transporte de gases (hemoglobina é uma proteína).
Com tantas funções importantes, está claro que proteínas são constituintes fundamentais do nosso corpo e garantir uma ingestão adequada desse macronutriente é vital para o bom funcionamento do corpo.

O que seria uma ingestão adequada de proteína?

Durante o funcionamento normal do corpo humano, proteínas são degradadas e eliminadas. Isso pode ser medido por meio da quantidade de nitrogênio presente em nossas fezes, urina e em outras secreções, pois aminoácidos são as únicas substâncias nitrogenadas absorvidas em quantidade significativa por nosso corpo. Assim, uma regra simples para determinar a quantidade mínima de proteínas a ser ingerida é verificar a mínima quantidade que garante o equilíbrio de nitrogênio, quando a quantidade ingerida é igual a quantidade eliminada.
Em uma situação normal - quando a pessoa já terminou seu crescimento e não está fazendo exercícios para hipertrofia - adotar uma dieta com mais proteína do que o corpo precisa não acarreta um permanente desequilíbrio positivo, em que a quantidade de nitrogênio ingerida seria sempre maior que a quantidade eliminada.
Quando adotamos uma dieta mais rica em proteína, há um ganho de proteína corporal nos primeiros dias, depois dos quais o corpo atinge um equilíbrio nesse novo patamar. Similarmente, quando voltamos à dieta menos rica em proteínas, mas ainda respeitando o mínimo necessário, há uma perda de proteína corporal nos primeiros dias, depois dos quais o corpo entra em equilíbrio novamente.

Para bebês de 0-6 meses de idade, a quantidade adequada de proteínas é determinada pela quantidade fornecida pelo leite materno. A média encontrada usando dados de vários estudos é de 1,52 g/kg/dia.

A partir dos 6 meses de idade, a necessidade diária é determinada somando-se a quantidade estimada de deposição de proteína no corpo (quando em fase de crescimento) ao valor obtido pelo método do equilíbrio de nitrogênio.
Abaixo seguem as médias encontradas usando dados de vários estudos:

7-12 meses: 1,2 g/kg/d
1-3 anos: 1,05 g/kg/d
4-8 anos: 0,95 g/kg/d
9-13 anos: 0,95 g/kg/d
14-18 anos: 0,85 g/kg/d
19-50 anos: 0,8 g/kg/d
51-70 anos: 0,8 g/kg/d
Grávidas: 1,1 g/kg/d
Lactantes: 1,3 g/kg/d

Pelos números acima, percebemos que nossas necessidades de proteína são pequenas se comparadas ao que as pessoas normalmente ingerem. Mas e se malhamos e queremos ficar fortes? Quanto de proteína precisamos adicionar a esse mínimo?

Não encontrei bons estudos que associem diretamente quantidade de proteína ingerida a ganhos de massa muscular ou força.
O que mais se encontram são estudos que indicam a quantidade mínima para atletas de resistência para que mantenham um equilíbrio de nitrogênio, de forma que não percam massa muscular por conta do treino.

Um estudo feito em 1992 encontrou um valor mínimo para atletas de força experientes de 1,4 g/kg/d.

Outro estudo também de 1992 indicou que a necessidade de proteína é menor em atletas de maior experiência, pois o corpo se torna mais eficiente na utilização da proteína. Esse estudo indicou que novatos podem precisar de 1,6-1,7 g/kg/d.

A seguinte tabela é um resumo de outros estudos indicando valores que variam de 1,2 até 2,2 g/kg/d.

Em alguns estudos os autores observam que não há evidências de que um consumo maior que o "valor mínimo" favoreça o ganho de massa muscular, mas se você é como eu e quer garantir que, caso esteja errando, que este erro seja pelo excesso, pode adicionar a esse valor a quantidade de proteína que corresponderia ao seu ganho muscular esperado.
Vamos concordar que um aumento de 2kg de massa muscular por mês é um aumento acima de qualquer expectativa. Essa quantidade corresponde a 67g de músculos por dia. Sabendo que apenas 20% dos nossos músculos são constituídos por proteína (75% é água e os outros 5% são sais inorgânicos e outras substâncias), estamos falando de ~13g de proteína por dia. Para uma pessoa de 75kg, isso significa acrescentar no máximo mais 0,2g/kg/d ao valor mínimo indicado pelos estudos.

Assim, 2,4 g/kg/d seria o teto de qualquer recomendação cientificamente razoável que poderíamos esperar com base nos estudos existentes para adultos que treinam almejando a hipertrofia muscular. Não custa enfatizar, no entanto, que vários estudos indicam que precisamos de muito menos que isso, sendo possível que 1,4 g/kg/d já seja suficiente para maximizar os ganhos.

Também é importante dizer que esses valores devem ser interpretados mais como uma regra geral do que como um valor determinado a ser seguido à risca, pois vários outros fatores influenciam essa quantidade. Como exemplo, podemos citar a quantidade de aminoácidos essenciais presentes nas proteínas consumidas, a distribuição da ingestão durante o dia, a presença de outras substâncias que interfiram na absorção das proteínas, a quantidade total de calorias ingeridas (dietas hipocalóricas requerem uma quantidade maior de proteínas), etc.



"Rapidinhas" que talvez mereçam ser exploradas em posts futuros:

Proteínas de digestão mais lenta podem promover balanço de nitrogênio mais positivo:
Ingerir proteínas junto com outras fontes de energia pode aumentar o balanço de proteínas:

É preferível ingerir proteínas logo após o treino a esperar 2h (pelo menos se você já está na terceira idade)

Alimentação pré-treino também é super importante:

Alimentar-se em refeições mais concentradas talvez seja vantajoso:


Mas adicionar suplementos de aminoácidos de rápida digestão junto com carboidratos entre as refeições pode gerar uma resposta anabólica positiva.

domingo, 14 de julho de 2013

O gene egoísta vegano




Em suma, a tese defendida por Richard Dawkins em sua primeira obra, "O Gene Egoísta", é a de que a unidade fundamental da evolução da vida são os genes. É uma nova abordagem da teoria da evolução mais aprofundada. Ele defende que somos apenas uma máquina de propagação e preservação dos genes e todas as nossas atitudes estão inteiramente envolvidas com eles. Podemos associar todos os nossos sentimentos sob essa perspectiva, pois eles foram desenvolvidos apenas para o bem do gene.
Altruísmo puro, portanto, não existe na natureza. O que num rápido vislumbre pode parecer altruísmo entre espécies e em casos intraespecíficos, muitas vezes são casos não profundamente investigados, ou quem sabe ''falhas'' evolutivas, erros de estratégia gênica, pois o altruísmo é evolutivamente incompatível em termos naturais. Geralmente, essas ''falhas'' são ''estratégias'' em andamento - uma programação padronizada de comportamento baseado em probabilidades que visa primordialmente a preservação do gene.

O meio ambiente influencia no comportamento, mas não muda a natureza do gene. De uma perspectiva fundamental, somos egoístas por natureza. Mesmo num ambiente onde houvesse recursos infinitos disponíveis para todos, haveria rivalidade dentro e fora das espécies.

O que pode existir são relações mutuamente benéficas, a simbiose, em que as espécies ganham numa proporção aceitável. A simbiose é o caminho mais favorável para a evolução. É bem possível que as mitocôndrias, por exemplo, fossem algum microorganismo procarionte externo em mutualismo com microorganismos eucariontes, segundo a teoria da simbiogênese (Lynn Margulis). Nos humanos, a família, por exemplo, é uma simbiose perfeita, que permitiu a nossa sobrevivência e evolução social.

Com essa tese aplicada sob a perspectiva do veganismo, podemos concluir que o veganismo é uma relação de simbiose perfeita. Por um lado, o veganismo proporciona mais saúde, longevidade e até mesmo beleza. Estou convencido de que pessoas veganas são mais bonitas - talvez pelos alimentos antioxidantes e funcionais que passam a consumir em maior quantidade. Por outro lado, os animais não são explorados e podem viver suas vidas em paz. Veganismo é evolução. Enquanto seres humanos, não precisamos ser predadores de outros animais para viver; pelo contrário, vivemos mais quando não somos predadores.

Clécio M.